ANDOR: A POLÍTICA EM STAR WARS

A segunda temporada de Andor, vem atingido níveis de aprovação por parte da crítica, que nenhuma série de Star Wars havia alcançado até então. Focada principalmente nas entrelinhas do conflito entre Rebelião e Império, a minissérie se destaca por suas metáforas políticas e sua profundidade nos aspectos ideológicos das duas forças da guerra civil galáctica. Mas, será que ela é tão boa assim? E qual seria o posicionamento político da Rebelião e do Império? Será que foi somente essa pegada ideológica que deu mérito a essa série? Vamos discutir isso hoje!

STAR WARS

Rafael Silva

10/14/20254 min read

Estrelada por Diego Luna (Cassian Andor), o seriado se passa entre Vingança dos Sith e Rogue One, mostrando da forma mais visceral até então, a extensão de crueldade e tirania imperial.

O enredo aborda várias visões do conflito galáctico, que aos poucos vão se conectando. Apesar de um tanto 'arrastada', tendo em vista o dinamismo característico da franquia. Porém, essa monotonia não é constante, e temos uma trama mais ágil em comparação à temporada anterior.

Temos ótimos personagens. Cassian e Bix possuem uma ótima química. Kleya e Luthel têm sua relação de 'pai e filha' melhor trabalhada. Mon Mothma recebe muito destaque, deixando sua vida de luxos em Chandrila, para enfim assumir sua resistência ao Imperador e unir-se à Aliança Rebelde.

Em questão de produção, a série segue em alto nível, mantendo-se no mesmo patamar de Mandaloriano e Ahsoka em quesito de qualidade.

Mas, nada disso se destaca tanto quanto o subtexto ideológico da obra. Mas, onde ele se encontra?

Na segunda temporada, temos diversos núcleos em desenvolvimento ao mesmo tempo, demonstrando muito bem a desorganização da Rebelião antes de configurar-se na Aliança Rebelde. Andor agindo por conta própria, junto a revolucionários de seu planeta natal, Bail Organa e sua equipe mais bem equipada agindo em Yavin, e outros ainda piores, como Saw Gerrera, que estão no limite do terrorismo.

Na vida real, não é incomum contemplarmos exemplos de grupos que, por meios totalmente diferentes, lutaram pela mesma causa.

Podemos citar, por exemplo, os movimentos antirracistas nos EUA entre as décadas de 1940 e 1970. De um lado, tínhamos o pacifista Martin Luther King, do outro, extremistas como Bobby Seale e Huey Newton.

Uns, por meio das palavras, outros, por meio da violência, buscavam a igualdade entre negros e brancos. Em Andor, temos exemplos claros dessas faces da mesma moeda. Como representantes do pacifismo, temos Mon Mothma e Bail Organa, que tentaram por anos lutar pela Democracia por meio do diálogo, na mobilização dos sistemas contra o Império. E quando não conseguiram fazê-lo por esse método, partiram para a guerra, mas ainda assim, mantendo um código moral rígido, para que não se tornassem tão cruéis quanto os imperiais. Porém, temos também os extremistas, como Saw, que não só matam e torturam imperiais, como fazem o mesmo com qualquer um que questione seus métodos.

Muitos exemplos desse tipo de divisão ideológica foram observados na história moderna. Desde os Girondinos e Jacobinos na Revolução Francesa, até os Mencheviques e Bolcheviques na Revolução Russa, grupos buscam derrubar o sistema vigente da forma que acham correta, e então, aplicar sua lei do mesmo modo.

A Revolução Russa em específico, é muito referenciada nas entrelinhas do seriado. Desde as vestes dos manifestantes, até os gritos entoados pelos mesmos. Mais uma vez, a vida imita a arte, e a arte imita a vida.

Por outro lado, temos o Império Galáctico, com uma repressão absoluta de todas as liberdades civis. Além do uso constante da força para reprimir seu povo, Palpatine tem a seu dispor um verdadeiro 'Ministério da Mentira', censurando informações e adulterando outras. Um exemplo claro dessa máquina de manipulação é quando um soldado imperial atira em um colega para então culpar um grupo de manifestantes e conseguir liberação para disparar contra eles.

O Império se usa de seu controle absoluto de todas as camadas sociais para manipular a narrativa ao seu bel-prazer.

O uso de mão de obra escrava por parte de espécies marginalizadas também é algo recorrente, como o visto com os wookies.

E, como cereja do bolo, temos Orson Krennic, que secretamente desenvolve a maior arma que a galáxia já viu, a Estrela da Morte. Com ela, o Império poderia governar a Galáxia sem nenhuma forma de resistência, uma vez que teria o poder de destruir um planeta inteiro com um único disparo.

Diversos regimes autoritários na história humana beberam da mesma fonte. Na URSS, a repressão violenta de insurreições e a censura da imprensa foram marcas registradas. Esse mesmo modus operandi é perceptível em vários outros casos, desde a Alemanha Nazista até os regimes militares sul-americanos.

Até mesmo na parte estética, é possível notar semelhanças. Desde a concepção, George Lucas baseou os visuais das construções e uniformes imperiais na estética militar alemã das décadas de 1930 e 1940.

Muitos apontam as críticas cíclicas da saga ao seu país de origem, os próprios Estados Unidos. Lucas não poupou sua pátria, uma vez que confirmou em entrevistas ter baseado a relação Rebelião/Império na Guerra do Vietnã.

A sede de exploração de recursos e povos por parte do Império Galáctico, algo muito presente na metade da temporada, conversa muito com o tema e chamou a atenção dos espectadores mais atentos.

Andor, com certeza, é uma série extremamente política, e por isso atraiu a atenção dos críticos mais exigentes. Não à toa, a série obteve 83 de aprovação no Metacritic e 96% no Rotten Tomatoes.

Mas, não podemos enxergá-la por um único viés! Assim como toda a franquia Star Wars. Autoritarismos e abusos ocorreram, ocorrem e, infelizmente, continuarão ocorrendo em todos os modelos políticos existentes. A liberdade não tem ideologia.

Obras como essa mostram as várias formas de resistência perante qualquer que seja a opressão. Por isso, assisti-la como uma crítica unilateral é errado. Precisamos observá-la de uma forma ampla e aplicar sua lógica nos diversos casos que conhecemos em nossa história, para saber como evitar que tais coisas tornem a ocorrer.

Muito além de uma produção tecnicamente excelente, é uma ótima adição à ampla lore dessa galáxia tão, tão distante. Andor é uma imensa crítica histórica, que sem dúvida, vale conferir. Seja você fã ou não de Star Wars.

Nota: 8