ESSA É A MELHOR HQ DO SUPERMAN?

Quando falamos de Superman, falamos daquele que carrega no peito o símbolo máximo do heroísmo. Década após década, mesmo em meio a todas as mudanças do mundo, ele segue sendo o nome que nos vem a cabeça, quando pensamos em super-heróis. E por que disso? Bem, talvez Superman: Quatro Estações, nos traga algumas respostas. Escrita por Jeph Loeb e Tim Sale, esse clássico não tão conhecido do Homem de Aço, carrega a alma do herói em cada uma de suas páginas, e será dessa bela obra, que falaremos hoje.

MARVEL E DC

Rafael Silva

10/1/20254 min read

O CORAÇÃO HUMANO

A origem do Superman já foi contada milhares e milhares de vezes. Todos sabemos como ele foi salvo por seus pais biológicos antes do cataclismo de seu planeta natal e enviado à Terra, onde foi criado pelo simples casal do Kansas, Jonathan e Martha Kent. Após anos aprendendo com eles, Clark parte para Metrópolis, onde se torna o grande herói da humanidade. Quatro Estações se propõe a recontar essa história, mas de um ponto de vista muito mais humanizado que o comum.

Esse tom foi muito replicado em Smallville, seriado estrelado por Tom Welling, a partir de 2001.

Superman passava por uma era de reconstrução nos quadrinhos. A chegada da Era de Bronze trouxe consigo um dos momentos mais difíceis de sua trajetória. Arcos como A Morte do Superman e Reino do Amanhã foram responsáveis por quebrar, em parte, o mito por trás do "Herói Perfeito", pelo qual o Homem de Aço era visto. Estávamos na era dos anti-heróis e das tramas mais realistas. Quatro Estações surgiu como um sopro de clássico, em meio a tantas desconstruções.

Por trás dessa obra, temos Tim Sale e Jeph Loeb, responsáveis por desenvolver Batman: O Longo Dia das Bruxas, uma das melhores HQs do Cavaleiro das Trevas. Em 1998, a dupla recebeu a oportunidade de trabalhar com o segundo maior nome da DC, e não decepcionou.

Loeb explora em sua narrativa muitos dos sentimentos de Jonathan e Martha em relação ao filho. Eles sempre souberam que ele era diferente, mais poderoso, e fizeram o possível para ensiná-lo o que era certo fazer com esse poder. Ainda assim, tinham receio do que ele poderia se tornar. Clark, por sua vez, já adolescente, sente-se como uma criança novamente, descobrindo cada vez mais sobre seus dons, tendo recém-descoberto sua habilidade de voar, a qual apresenta para seu primeiro interesse romântico, Lana Lang.

Logo de início, o roteiro de Jeph e a arte viva e leve de Sale nos trazem um ar bastante simples ao Homem de Aço. Ele é o ser mais poderoso da Terra, mas não faz a menor ideia do que fazer com tais poderes. Sente que pode e deve fazer mais pelas pessoas, mesmo que tenha de deixar Smallville, mas não entende ao certo como deve realizar isso. Seus pais, por sua vez, também têm dúvidas sobre como ajudá-lo.

E são nesses arcos que a HQ demonstra seu maior trunfo: construir a humanidade do Homem do Amanhã. Assim como qualquer pessoa, ele tem dúvidas, ama e também sente medo, mostrando que, por mais forte que seja, não é tão diferente de um ser humano comum. Ao mesmo tempo, a obra ressalta sua obstinação em fazer o bem ao maior número de pessoas possível. Se ele foi abençoado com tantos dons, por que não usá-los em favor de quem não os tem?

Em suas primeiras ações, o herói é visto como inocente, bobo e até mesmo infantil, parecendo se divertir ao realizar seus atos heroicos.

Como o título sugere, a história é dividida em quatro pontos de vista distintos sobre a trajetória do herói: Jonathan Kent, Lois Lane, Lex Luthor e Lana Lang. É curioso como um mesmo personagem pode ser interpretado de formas tão diferentes. Até mesmo a origem da rixa com Lex é bem explicada. Luthor era o centro das atenções, algo que sempre teve graças ao seu dinheiro e influência. Quando Superman chega, realizando o impossível, as futilidades de Luthor se tornam irrelevantes. Um homem que nunca quis atenção a recebe sem esforço, e aquele que sempre a buscou agora está nas sombras. Esse contraste foi o estopim para que o ego de Lex só se satisfizesse quando conseguisse provar a si mesmo que era melhor que o Homem de Aço.

A relação de Clark com Lana e Lois também funciona como um divisor de águas em sua vida. Lana representa a vida simples que ele levou no Kansas, em que era apenas um garoto que ajudava seu pai na fazenda. Lois, por sua vez, remete à vida dupla que Kent passou a ter em Metrópolis e ao fascínio que atraiu para si por meio do Superman. Dois lados completamente distintos do mesmo eu, mas fundamentais para a construção de quem ele é. Um “deus” e, ao mesmo tempo, um homem.

Se observarmos bem, não há nada de realmente inédito em tudo isso, além da forma única com que cada um desses elementos é retratado. Creio que Quatro Estações seja tão incrível por conseguir sintetizar seis décadas de história do herói até então de forma simples e extremamente emocional.

E é justamente isso que o torna o herói primordial da ficção: Superman é aquele que luta por um povo que o acolheu, mesmo podendo se sobrepor a ele quando bem entender. Um herói que, mesmo em sua morte nas HQs, seguiu sendo o mais relevante entre os mascarados, pois um verdadeiro herói, muitas vezes, vale mais morto do que vivo, seus ideais são maiores que sua própria vida. Mesmo sem ele, pessoas continuarão lutando pelo que ele lutou.

Somente alguém que, mesmo não sendo humano, aprendeu a ser um, e ama ser o que é, foi capaz de carregar tamanha responsabilidade em um gênero tão vasto quanto o dos super-heróis.

Em resumo, temos uma das melhores HQs de origem que o Escoteiro Azul já conheceu. Leve e, ao mesmo tempo, extremamente profunda nas questões que permeiam a alma do herói. Não estamos falando aqui de obras do nível de Grandes Astros ou Reino do Amanhã, mas de uma HQ que também possui valor fundamental na construção desse mito que ultrapassa as barreiras da ficção. Não é uma das primeiras que vêm à mente quando pensamos em Superman, mas é essencial para fãs do herói.

Para mim, beira a perfeição.

Nota: 9,5