Herdeiro do Império: A Continuação Definitiva da Trilogia Clássica

No fim da década de 1980, Star Wars havia terminado há 9 anos. A Lucasfilm temia que sua maior franquia poderia estar caindo em esquecimento. Na época, nem mesmo o pai da saga, George Lucas, tinha confiança em retomá-la. Seu maior projeto, as prequels, estava prestes a ser engavetado definitivamente. Algumas HQs, lançadas ao longo dos anos 1980/1990 pela Marvel, ajudaram a franquia a não ruir definitivamente, ao mesmo tempo que foram peça-chave para evitar a falência da Marvel. Porém, isso ainda não era suficiente para retomar a confiança de Lucas. Sendo assim, Timothy Zahn (autor de mais de setenta contos e novelas, desde 1978), em 1989, foi desafiado a reacender a chama no coração dos fãs.

Não era um desafio simples. Não se tratava de fazer uma simples aventura espacial: a obra precisaria ter a alma dos filmes, dos personagens, dos planetas. E, por mais que conheçamos todos muito bem, adaptá-los corretamente é algo bem diferente.

Após quase um ano, o livro foi entregue e rapidamente se tornou um best-seller. Críticos de portais como o Production Sunday Journal, além de elogiarem grandemente a obra, teceram o seguinte comentário: “Ela captura tão bem a alma dos filmes originais que chega a ser possível imaginar o tema de John Williams tocando ao fundo das cenas.”

Por essa e outras críticas, ficou claro: o projeto havia dado certo, Star Wars definitivamente estava de volta, e rendeu mais dois livros, igualmente bem-sucedidos. O interesse foi reacendido, e Zahn tornou-se, para muitos, o melhor autor do Legends de Star Wars.

Mas como é a história? Como ela capta tão bem a essência da saga e desenvolve de forma brilhante seus personagens centrais? Vamos a isso.

A trama se passa cinco anos após a morte do Imperador e a destruição da Estrela da Morte, que destronou o Império do título de poder máximo da galáxia. Assim, os líderes da Rebelião — Leia Organa Solo, Mon Mothma e Almirante Ackbar — criam as bases da Nova República.

Porém, os desafios de estabelecer um governo para trilhões de pessoas, enquanto enfrentam falta de recursos e pessoal e caçam os remanescentes do Império, provam-se quase impossíveis.

Mesmo sendo coroado como grande salvador da galáxia, Luke não se sente bem. Ele está sozinho e não consegue treinar sua irmã, Leia, que afunda em dificuldades políticas e outras derivadas de sua gravidez (gêmeos que teve com Han Solo).

Dentro da própria cúpula da Rebelião, existem aqueles que tentam ao máximo tirar Ackbar e Mon Mothma do poder. O líder desse golpe interno é Fey’lya, que se aproveita da crise para assumir o comando.

Enquanto isso, o Grão-Almirante Thrawn, vilão central da narrativa, reconstrói o Império a partir de seus escombros. Mesmo com poucos recursos, o brilhantismo tático de Thrawn devolve o status de ameaça real à Nova República.

Ele fecha acordos com contrabandistas da gangue de Karrde. Entre seus capangas, temos a notória Mara Jade, ex-serva de Palpatine e futura esposa de Luke Skywalker.

O Grão-Almirante é, sem sombra de dúvida, um dos pontos mais altos de Herdeiro do Império: inteligente, frio e intrigante, mesmo nas derrotas permanece intocável, parecendo invencível. Com certeza, um sucessor digno de Darth Vader como grande vilão de Star Wars.

A dinâmica entre o elenco clássico segue perfeita. O carisma de cada um deles é ponto alto da narrativa, cada um com seus dilemas próprios.

Luke e Leia são simplesmente perfeitos aqui. Skywalker enfrenta dificuldades psicológicas, mas ainda assim consegue manter-se firme em sua fé na Força.

Porém, ele, pela primeira vez desde que descobriu ser um Jedi, sente que a Força o abandonou. Os ysalamiri são criaturas capazes de criar bolhas invisíveis que desativam a Força por onde passam. Assim que Luke fica preso em um planeta repleto delas, tem de enfrentar seus problemas sem sua ajuda.

Mesmo deposto de seus poderes, ele enfrenta Mara Jade, que desejava matá-lo a qualquer custo.

Por outro lado, Leia tem o peso da galáxia sob seus ombros, ao mesmo tempo que precisa aprofundar-se em seu treinamento Jedi e preparar-se para a maternidade.

Han Solo, Lando e Chewbacca também merecem destaque, estando muito fiéis a seus papéis nos cinemas.

Os quadrinhos e a trilogia prequel igualmente falharam em dar tamanha qualidade ao desenvolvimento dos heróis clássicos e, ao mesmo tempo, ampliar a mitologia. Quadrinhos como Império Sombrio tentam, ao seu modo, expandir o universo, mas possuem roteiros um tanto rasos e se prendem a vilões sucateados, como Palpatine.

Já as Prequels investiram em novos protagonistas, mas ainda tentaram dar uma conclusão digna a seus velhos heróis. No entanto, com protagonistas rejeitados por boa parte do fandom e conclusão decepcionante para o trio clássico (especialmente para Luke), acabam tornando-se tão falhas quanto os quadrinhos.

E, no meio disso, temos a trilogia de Timothy Zahn, que une o melhor dos dois mundos, com uma escrita muito mais bem amarrada.

Para mim, não há dúvida de que Herdeiro do Império, a base da trilogia Thrawn, é um dos melhores livros do Legends e, sem sombra de dúvidas, o melhor caminho trilhado por Star Wars pós-Retorno de Jedi.

Nota: 10