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Foto do escritorCanal Cultura POP

Jeca: Um Brasileiro

Essa pequena saga, trará uma história paralela, englobando diversas tramas das obras do gênio do cinema brasileiro, Amácio Mazzaropi, além de sua própria história de vida. Obviamente, não iremos desperdiçar a chance de torna-la parte do universo compartilhado Cultura POP, ao lado de tramas, como os melhores do mundo. A trama seguirá a mesmíssima lógica da série de Vader, com a trama avançando de maneira dinâmica, saltando ao longo das décadas, para abordar diversos momentos da vida do personagem, demonstrando sua evolução ao lado de seus amigos, familiares e inimigos.

 

1. Êxodo Rural (1918)

Era uma noite linda de estrelas na pacata fazenda Taubaté, no interior de São Paulo. Em meio aos vastos campos verdes, agora refletindo o brilho da lua, se encontrava uma humilde casinha de Sapê, onde nossa história ai de começar. Dona Anastásia sentia a dor mais excruciante da sua vida, a do parto, mas, sentia-se feliz por isso, afinal, já faziam dez anos que ela e seu marido Zeca, tentavam ter um filho. A parteira era sua irmã, Dona Marli, que tentava a todo o custo acalmar sua irmã, sem sucesso.

Usando os últimos resquícios de força que haviam em seu corpo, ela deu a luz a seu filho, cujo o nome não iremos revelar, pois na verdade, ele talvez nem seja tão relevante, pois desde desse dia, todos que entrassem e saíssem da vida dele, o chamariam sempre pelo mesmo apelido, Jeca.

Zeca segurou seu filho nos braços pela primeira vez, tentando segurar as lágrimas enquanto olhava para aquele pequenino bebê enrolado em panos. Para todos na região, Zeca era um homem inquebrável em suas emoções, mas ali, em seu íntimo, ele podia enfim se render a emoção de enfim realizar seu maior sonho, aquele menino, era a coisa que ele mais amava e amaria nesse mundo.

Os primeiros dez anos de vida do pequeno Jeca foram bastante adversos, completamente analfabeto, definitivamente não por opção. Mesmo com somente um filho, sua família enfrentava diversas dificuldades financeiras, principalmente por causa das secas, e os impostos abusivos cobrados pelos coronéis da região. Anástasia implorava para Zeca para que eles fossem embora de lá, uma vez que o dono daquelas terras, Seu Leão, os tratava feito gado, e os pagava somente com sobras. Zeca disse que gostaria de poder tira-los de lá, mas sem ele, eles ficariam na completa miséria, afinal, até mesmo sua casa pertencia a ele.

Jeca acompanhou seu pai na lavoura, como fazia todos os dias. Sem escolas ou universidades, a única escolha de qualquer menino da sua idade, era seguir a carreira de seu pai, ou torna-se um criminoso, e ele preferiu o caminho mais difícil. Enquanto trabalhavam na imensa plantação de café de Seu Leão, abaixo de um sol escaldante, Jeca questionou seu pai de porque de Leão ser tão injusto, e do porque de seu pai não fazer nada contra ele. Zeca explica a seu filho que quando certos homens tem mais que os outros, e sentem que a vida deles está nas suas mãos, eles de certa forma.... ´´esquecem o que é ser gente´´, e tratam todos como se fossem peões, e peões não podem fazer nada, além do que o chefe manda, caso o contrário, estão perdidos.

Ao fim de mais um dia de trabalho, pai e filho cavalgavam em um pequeno jegue, de volta para casa. O garoto estava claramente desapontado, talvez por em sua inocência de criança, ainda pensar que o mundo fosse um lugar e justo, mas agora, depois de experimentar um pouco da realidade, sua cabeça começou a mudar. Percebendo a tristeza em seu filho, Zeca que ele fizesse como ele, sempre que estive triste ou perdido, olhasse para toda a beleza a sua volta, o lindo sertão, e cantasse:

Aqui está o texto na forma de versos musicais:


Você quer ver,

Uma coisa tão bonita?

É a Lua cor de prata

Clareando meu sertão.


E um cabloco

Nos braços de uma viola

Canta versos que consola

O seu pobre coração.


E lá distante

Uma ponte a murmurar

Com suas águas cristalinas

Desafiando o luar.


Uma cabocla apaixonada

Com saudade

Ouve a voz de um caboclo

Que pra ela vem cantar.


Saudade,

Quem foi que te criou?

Saudade,

Não tem raça, não tem cor.


Mora no mato,

Na cidade, nos confins,

E também no coração

De quem sofre igual a mim!


Lado a lado, pai e filho cantarolaram através da noite estrelada, algo que se tornaria costume entre eles, cantar para esquecer os horrores da vida, algo que Jeca levaria para o resto da vida, como uma de suas grandes paixões.




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