Acabo de assistir Nosferatu de Robert Eggers, o remake da obra F.W Murnau de 1922. Hoje, iremos comparar original e remake, obviamente, considerando o contexto da época, pois 103 anos é um tempo ´´considerável´´ para que os comparemos diretamente, dessa forma, vamos analisa-los pelo que foram em suas respectivas eras, e em critérios que podem ser melhor comparados. Então, sem mais delongas, vamos ver qual filme foi melhor.

História e Roteiro

A obra de 1922 foi uma adaptação ilegal do romance de Bram Stoker, trazendo uma trama bastante semelhante em vários aspectos, mas alterando pontos importantes da narrativa, como os nomes dos personagens.
Limitado ao contexto da época, com filmes mais curtos e mudos, o longa consegue, de forma magistral, expressar a trama do livro de maneira fantástica e, ainda assim, manter a tensão, especialmente nas aparições de Orlok (Max Schreck) e seus ataques psíquicos contra Ellen (Greta Schröder). Temos a captura de Hutter no castelo de Orlok, a viagem do vampiro até a Alemanha, sua praga sendo lançada sobre a cidade e sua morte, tudo em pouco mais de uma hora e quinze minutos, sem parecer apressado. A narrativa é coesa e fácil de acompanhar e, mesmo com suas limitações, constrói sua tensão por meio de uma trilha sonora impecável e de um visual horripilante para seu monstro.
Já a versão de 2024 se aprofunda muito mais na trama de cada um de seus personagens, especialmente Ellen (Lily-Rose Depp), que tem uma relação muito mais simbiótica com Nosferatu (Bill Skarsgård). A atmosfera de tensão é mais bem desenvolvida, especialmente na viagem de Hutter (Nicholas Hoult) até a Transilvânia, onde sentimos o peso da maldade do local e os horrores que ele vivencia. A tortura psicológica de Orlok sobre Ellen é mais aprofundada, assim como as pragas lançadas pelo vampiro sobre sua cidade, transmitindo de forma mais visceral o horror que ele carrega.
Porém, acredito que o remake caia em um problema comum do terror moderno: o conteúdo apelativo. Filmes de monstro, especialmente os de vampiros, são conhecidos por explorarem sexo e violência, mas, neste caso, a obra parece ter exagerado na dose. As cenas grotescas estão presentes do início ao fim, o que, por um lado, contribui para a atmosfera pesada do filme, mas, por outro, banaliza a violência. O mesmo acontece com o sexo, que é exageradamente explorado – causando desconforto inicialmente, mas se tornando apenas bizarro e repetitivo ao longo da trama. Esse é um problema que o original não possui.
Por fim, o remake traz uma história mais profunda e densa, porém apelativa. Já o original simplifica a trama, mas a torna mais leve e dinâmica, mesmo com as dificuldades do período. Por isso, nesse ponto, ambos se equilibram.
Vencedor: Empate
Monstro e Atuações

O Nosferatu de Max Schreck era grotesco, com um trabalho de maquiagem impecável que impressiona até hoje. Sua aparência gerava aflição no público da época, mesmo sem o atributo da voz a seu favor, marcando para sempre a história do cinema de terror.
Já o vampiro de Bill Skarsgård, apesar de ser cem anos mais moderno, não apresenta – na minha opinião – um visual tão marcante quanto seu irmão centenário. Por outro lado, o trabalho de voz torna sua presença horripilante, especialmente nas visões de Ellen. A criatura tem mais personalidade e, sem dúvida, assusta mais, mas não é tão única quanto a versão de Schreck.
No que diz respeito ao resto do elenco, acredito que a diferença seja grande. Ellen é muitíssimo mais interessante em sua nova roupagem, com sua ligação com o vilão sendo mais bem explicada. O mesmo vale para Hutter, que ganha muito mais camadas, assim como Knock, que no original era apenas um louco aleatório, mas aqui tem sua relação com o Lorde das Trevas muito mais bem trabalhada, sendo revelado que ele mesmo foi um dos responsáveis pelo retorno do monstro.
Além disso, temos a criação de um Van Helsing 2.0, sob a alcunha do professor Albin Eberhart Von Franz (Willem Dafoe), que traz uma ótima dinâmica ao longa.
Por fim, no quesito monstro, o original leva a melhor. No quesito elenco, o remake vence. Mais um empate.
Vencedor: Empate.
Visuais e Estética

O clássico de 1922 fez um ótimo trabalho com figurinos e ambientação, especialmente no visual de Nosferatu e de seu castelo. No entanto, sua missão era mais fácil há cem anos do que foi para sua repaginação em 2024. Apesar de ter sido produzido com toda a modernidade disponível, o novo filme transmite uma sensação de antiguidade e precisão histórica tão perfeita quanto seu antecessor.
As ruas imundas e abarrotadas das cidades, a escuridão das florestas e vilarejos e a antiguidade mórbida do castelo de Orlok criam uma atmosfera de época fantástica, gerando uma imersão impressionante. A fotografia encanta por sua beleza, assim como os figurinos. Em termos de produção, essa talvez seja uma comparação até mesmo injusta.
Apesar da beleza estética do original, a direção de Eggers conseguiu criar uma imersão superior. Por isso, finalmente temos um vencedor parcial.
Vencedor: Nosferatu (2024)
Trilha Sonora

Composta por Hans Erdmann, a trilha sonora do original faz jus ao título da obra, A Sinfonia do Horror, misturando seu toque clássico e luxuoso ao terror sobrenatural da fera, especialmente na icônica sequência do pesadelo de Hutter.
Já a trilha de 2024, composta por Robin Carolan, conta com mais de 51 faixas, criando uma tensão constante ao longo do filme.Porém, em alguns momentos, a trilha exagera nos jumpscares, um recurso que já parece datado no terror contemporâneo. Ainda assim, é inegável que seu trabalho mantém o espectador na ponta da cadeira do início ao fim.
Ambos os trabalhos são excelentes, mas, pessoalmente, sou mais fã das composições clássicas. Além disso, a trilha de Erdmann foi mais grandiosa para seu período do que a de Carolan está sendo para o seu. Sendo assim, ponto para o original! O confronto está empatado!
Vencedor: Nosferatu (1922).
Relevância

Nosferatu foi massacrado na época de seu lançamento, em 1922, especialmente por ser uma cópia indevida do livro de Bram Stoker. Suas cópias quase foram totalmente incineradas, e sua produtora, Prana Filmes, acabou falindo. Porém, com o tempo, sua perspectiva mudou, e a obra se tornou um símbolo do Expressionismo Alemão, ao lado de outros clássicos como O Gabinete do Dr. Caligari. Atualmente, é vista como um clássico cult e uma grande inspiração para a "Era de Ouro dos Monstros" na década de 1930.
A refilmagem de Eggers é um ótimo filme de terror, mas não é tão único quanto seu antecessor. Acredito que, com o passar dos anos, ele não será tão lembrado pelo grande público. Possivelmente, as pessoas continuarão a se recordar do personagem pela sua versão de 1922. A insistência em certos clichês do terror contemporâneo impede que o filme se fixe de maneira marcante na mente do público, não sendo nem de longe tão único quanto o original. Por isso, o ponto decisivo vai para o original.
Vencedor: Nosferatu (1922).
Veredito

Em suma, são duas boas obras, mas o filme de 1922 é único e histórico, tornando-se um símbolo do terror. O remake é, sem dúvida, mais assustador, melhor produzido, melhor atuado e inova em vários aspectos, mas peca pelos excessos, alguns realmente muito negativos.
São obras criadas em épocas e contextos totalmente diferentes, mas acredito que o clássico tenha sido muito mais grandioso em seu tempo e continuado a ser com o passar dos anos. Sua refilmagem, possivelmente, não terá o mesmo destino.
Dando uma nota para ambos, o original sem dúvida levaria um 10/10, como um clássico atemporal, enquanto seu remake ficaria com um 8/10, como um filme tenso, mas não tão único quanto a obra que lhe inspirou.
Vencedor: Nosferatu 1922